OLÁ CALOUROS 2010, TRÊS DICAS!!!
Alegria, alegria. Agora vocês são universitários. Passou um dos anos mais difíceis da vida dos estudantes. Parabéns!
Há mais de vinte anos dando aula na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, vou dar três dicas. Uma sobre como é possível fazer um excelente curso de Direito, outra sobre a chamada crise do primeiro ano, que às vezes ocorre no segundo ou mesmo no terceiro. E a terceira dica, sobre se é ou não conveniente, vantajoso ou desvantajoso, fazer estágio desde logo.
Começando, então, pela primeira, é, ao mesmo tempo, fácil e difícil terminar o nosso curso de Direito, estando muito bem preparado. Claro que suponho que todos os calouros do Direito Mackenzie queiram fazer um excelente curso, senão não teriam escolhido a nossa faculdade. Assim, vamos lá! Anote aí.
A facilidade é a seguinte: BASTA LER E RESUMIR UM LIVRO POR DISCIPLINA. É isso mesmo, ler e resumir apenas um livro, mas o livro inteiro. E arquiva-lo, abrindo uma pasta para cada disciplina. De tempos em tempos, preferencialmente nas férias, é fundamental dar uma recordada nos resumos dos livros arquivados.
Fácil, não? Agora as TRÊS DIFICULDADES: 1ª Saber qual o melhor livro de cada disciplina para ler e resumir; 2ª Planejar as horas de estudo necessárias a ler e resumir o livro escolhido; 3ª Manter a disciplina para cumprir o planejamento, recomeçando, recomeçando, recomeçando quantas vezes for necessário, sem se deixar esmorecer.
Quanto à nossa disciplina de Ética e Cidadania aplicada ao Direito I, turmas A,B e C, vou resolver a primeira dificuldade, indicando desde já o livro que deve ser lido e resumido neste primeiro semestre de 2010: “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles.
- Mas professor Marcos, não é melhor consultar mais de um livro em cada disciplina?
- A resposta é NÃO, NÃO E NÃO!
Isto porque, quando ainda não sabemos nada de um novo campo do saber, é preciso firmar uma referência, o que só se faz aprendendo em um livro só. Até porque, mesmo estudando apenas um livro, a primeira fase do aprendizado é a da confusão. É sempre assim quando se estuda uma matéria nova.
Essa primeira fase “confusa” é da própria natureza do aprendizado. Imagine, então, se você quiser aprender a partir de dois livros. Você não vai suportar uma “confusão ao quadrado” e vai acabar desistindo, sem firmar referência alguma sobre a nova matéria que você quer aprender.
Depois que você souber bem um livro, aí sim, você já estará com uma referência formada sobre a nova matéria. Então, será enriquecedor consultar outros livros. Não antes de saber bem um primeiro livro.
A segunda dificuldade é o do planejamento das horas de estudo. Quantas horas no semestre, no mês, na semana, por dia eu devo estudar? Quantas horas eu levo para ler e resumir dez páginas? Quantas páginas eu vou ter de ler e resumir neste semestre, se são oito disciplinas e, portanto, oito livros, estes livros, melhor dizendo?
São quatro horas de aula diárias, descontados os intervalos. Será que mais quatro horas diárias, de segunda a sexta, estudando quarenta horas por semana, como um trabalhador comum, será o bastante? Ou devo dedicar mais umas cinco a dez horas nos finais de semana?
Abro aqui um parêntese para dizer que o trabalho mais difícil do mundo é o de estudar para aprender coisas novas. Não existe trabalho mais difícil. E é por isso que temos a tendência à dispersão, a fugir do estudo como o diabo foge da cruz... Estudar demanda uma luta muito árdua, heróica mesmo. Só os fortes conseguem. E você terá de se fortalecer! E conseguirá!
Recomeçando, sem se deixar esmorecer, você se tornará forte e conseguirá fazer um bom curso.
Muito bem. Vamos agora à segunda dica, sobre a “crise do primeiro ano”.
Ela se caracteriza por um estado de aflição, de ansiedade, de angústia mesmo, por um desconforto que faz você pensar que entrou no curso errado. Que você errou em escolher o curso de Direito. Faz pensar em abandonar o curso e tentar outra coisa.
Cuidado, todos nós passamos por esta crise. Alguns sucumbem a ela abandonam o curso. A maioria vence. Os alertados para a sua quase inevitabilidade preparam-se psicologicamente e toleram com paciência que ela passe. Porque A CRISE DO PRIMEIRO ANO PASSA.
São três fatores, os causadores dela.
O primeiro fator decorre do fato de que a pedagogia na Universidade, em qualquer uma do País, não é tão dirigida quanto qualquer cursinho para passar no vestibular. Neste, o estudo é dirigido, bem programado, com tarefas diárias. E quanto mais o aluno deixar-se dirigir e seguir o planejamento feito pelo próprio cursinho, mais chances terá de passar no vestibular.
Por outro lado, em qualquer faculdade do País, o ESTUDO NÃO É TÃO DIRIGIDO. Ocorre que os bons alunos do cursinho, que passaram no vestibular, geralmente, não aprenderam a lidar com a LIBERDADE, não foram ensinados a se organizar com AUTONOMIA. Ficam esperando uma direção, uma orientação da faculdade e esta não vêm.
O universitário tem de se virar, tem de aprender a se organizar sozinho. Tem de se responsabilizar pelo uso do seu próprio tempo. Não há tarefas diárias a cumprir. E aprender a lidar com a liberdade é difícil. A liberdade é a escolha entre alternativas concretas. Vou para a biblioteca ou vou para o bar? Você tem de escolher. E responder pela escolha! Não há outra saída.
O segundo fator da crise do primeiro ano decorre do fato de que AS MATÉRIAS SÃO MUITO ABSTRATAS, os professores levantam vôo e ficam a dez mil metros de altitude, os alunos olham com cara de quem está entendendo, mas ninguém está entendendo nada. Mas também não comentam. Daí chega uma hora e você se pergunta se será mesmo capaz de dar conta do recado, se será capaz de aprender e de tirar nota. Você passa a duvidar da sua própria capacidade de acompanhar os professores, esses ETS que não voltam a Terra...
E o terceiro fator decorre da IMPRESSÃO DE QUE VOCÊ VAI PASSAR A SUA VIDA INTEIRA NA FACULDADE. Essa sensação ocorre porque, em geral, o calouro tem ao redor de dezoito anos, ou seja, eighteen, ele é um TEEN. Como a maturidade emocional, afetivo-social, a socialização e a importância maior dos amigos começa ao redor dos treze anos, deste ponto de vista, aos dezoito anos o calouro tem aproximadamente cinco anos de vida sócio-afetiva. Então, como a faculdade leva cinco anos para terminar, o calouro tem a impressão de que ele vai passar nela, tanto tempo quanto já viveu, ou seja, a vida toda...
Pense então comigo. Se ninguém dirige o meu estudo e se não me dizem o que fazer e o que estudar. Se não entendo as aulas e fico boiando. E vou passar a minha vida inteira assim? Sem ter qualquer apoio para me segurar? Aí você conclui: não, isso não dá. Você está entrando na crise do primeiro ano. SACOU?
Calma. Há remédio. É o verbo TOLERAR. Confie, a crise do primeiro ano passa. Leva um certo tempo, mas passa.
Finalmente a terceira dica, sobre estágios.
É fatal. Assim que entramos na Faculdade de Direito, especialmente a família pensa que já podemos resolver todos os problemas. E pensa, também, que quanto mais cedo começarmos a estagiar em algum escritório de advocacia melhor para a nossa formação. Dois erros fatais, diante dos quais o calouro tem de aprender a se defender.
Como você não sabe resolver nenhum problema jurídico, o melhor é logo afirmar que você acaba de entrar na faculdade, ainda não sabe nada, e que, assim que se formar, daqui a cinco anos, terá prazer em ajudar. É verdade, você corre um sério risco de atrapalhar uma solução correta se quiser advogar antes do tempo. Portanto, comece a ser um bom advogado, mostrando que você ainda não sabe e nem pode advogar... Seja hábil para não parecer que você apenas está com má vontade.
Estagiar no primeiro e no segundo anos da faculdade é a maior fria para o estudante que quer sair bem preparado da faculdade. Resistir ao estágio é muito difícil por quatro razões.
A família pensa que é bom e pressiona. Os escritórios de advocacia querem mão de obra barata e pressionam. Estagiar é muito mais fácil do que estudar e ainda conta com o apoio da família. Para o calouro, é uma ótima desculpa para vadiar e evitar o trabalho mais difícil do mundo, o estudo. Estagiando você é dirigido e não precisa aprender a lidar com a liberdade. Ainda que você seja mal dirigido, uma vez que você é levado a fazer coisas contrárias ao seu interesse maior, o de sair bem preparado para concorrer com aqueles que agora estão te contratando.
Se você precisa de dinheiro para pagar os seus estudos, aí é diferente. Neste caso, procure um emprego com registro em carteira, faça um concurso para um cargo técnico ou administrativo, etc.
Caso contrário, o melhor é aproveitar o tempo para ler e resumir, porque este tempo é o de agora, tempo que não volta mais e é dificilmente recuperável. Lembre-se de que além de ler e resumir será preciso que você leia a Constituição Federal, os códigos, a jurisprudência, as revistas especializadas, fazer iniciação científica, etc. Por isso, se você puder, o melhor investimento é o estudo diário, quatro horas por dia, no mínimo...
Parabéns, e boa sorte!
Há mais de vinte anos dando aula na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, vou dar três dicas. Uma sobre como é possível fazer um excelente curso de Direito, outra sobre a chamada crise do primeiro ano, que às vezes ocorre no segundo ou mesmo no terceiro. E a terceira dica, sobre se é ou não conveniente, vantajoso ou desvantajoso, fazer estágio desde logo.
Começando, então, pela primeira, é, ao mesmo tempo, fácil e difícil terminar o nosso curso de Direito, estando muito bem preparado. Claro que suponho que todos os calouros do Direito Mackenzie queiram fazer um excelente curso, senão não teriam escolhido a nossa faculdade. Assim, vamos lá! Anote aí.
A facilidade é a seguinte: BASTA LER E RESUMIR UM LIVRO POR DISCIPLINA. É isso mesmo, ler e resumir apenas um livro, mas o livro inteiro. E arquiva-lo, abrindo uma pasta para cada disciplina. De tempos em tempos, preferencialmente nas férias, é fundamental dar uma recordada nos resumos dos livros arquivados.
Fácil, não? Agora as TRÊS DIFICULDADES: 1ª Saber qual o melhor livro de cada disciplina para ler e resumir; 2ª Planejar as horas de estudo necessárias a ler e resumir o livro escolhido; 3ª Manter a disciplina para cumprir o planejamento, recomeçando, recomeçando, recomeçando quantas vezes for necessário, sem se deixar esmorecer.
Quanto à nossa disciplina de Ética e Cidadania aplicada ao Direito I, turmas A,B e C, vou resolver a primeira dificuldade, indicando desde já o livro que deve ser lido e resumido neste primeiro semestre de 2010: “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles.
- Mas professor Marcos, não é melhor consultar mais de um livro em cada disciplina?
- A resposta é NÃO, NÃO E NÃO!
Isto porque, quando ainda não sabemos nada de um novo campo do saber, é preciso firmar uma referência, o que só se faz aprendendo em um livro só. Até porque, mesmo estudando apenas um livro, a primeira fase do aprendizado é a da confusão. É sempre assim quando se estuda uma matéria nova.
Essa primeira fase “confusa” é da própria natureza do aprendizado. Imagine, então, se você quiser aprender a partir de dois livros. Você não vai suportar uma “confusão ao quadrado” e vai acabar desistindo, sem firmar referência alguma sobre a nova matéria que você quer aprender.
Depois que você souber bem um livro, aí sim, você já estará com uma referência formada sobre a nova matéria. Então, será enriquecedor consultar outros livros. Não antes de saber bem um primeiro livro.
A segunda dificuldade é o do planejamento das horas de estudo. Quantas horas no semestre, no mês, na semana, por dia eu devo estudar? Quantas horas eu levo para ler e resumir dez páginas? Quantas páginas eu vou ter de ler e resumir neste semestre, se são oito disciplinas e, portanto, oito livros, estes livros, melhor dizendo?
São quatro horas de aula diárias, descontados os intervalos. Será que mais quatro horas diárias, de segunda a sexta, estudando quarenta horas por semana, como um trabalhador comum, será o bastante? Ou devo dedicar mais umas cinco a dez horas nos finais de semana?
Abro aqui um parêntese para dizer que o trabalho mais difícil do mundo é o de estudar para aprender coisas novas. Não existe trabalho mais difícil. E é por isso que temos a tendência à dispersão, a fugir do estudo como o diabo foge da cruz... Estudar demanda uma luta muito árdua, heróica mesmo. Só os fortes conseguem. E você terá de se fortalecer! E conseguirá!
Recomeçando, sem se deixar esmorecer, você se tornará forte e conseguirá fazer um bom curso.
Muito bem. Vamos agora à segunda dica, sobre a “crise do primeiro ano”.
Ela se caracteriza por um estado de aflição, de ansiedade, de angústia mesmo, por um desconforto que faz você pensar que entrou no curso errado. Que você errou em escolher o curso de Direito. Faz pensar em abandonar o curso e tentar outra coisa.
Cuidado, todos nós passamos por esta crise. Alguns sucumbem a ela abandonam o curso. A maioria vence. Os alertados para a sua quase inevitabilidade preparam-se psicologicamente e toleram com paciência que ela passe. Porque A CRISE DO PRIMEIRO ANO PASSA.
São três fatores, os causadores dela.
O primeiro fator decorre do fato de que a pedagogia na Universidade, em qualquer uma do País, não é tão dirigida quanto qualquer cursinho para passar no vestibular. Neste, o estudo é dirigido, bem programado, com tarefas diárias. E quanto mais o aluno deixar-se dirigir e seguir o planejamento feito pelo próprio cursinho, mais chances terá de passar no vestibular.
Por outro lado, em qualquer faculdade do País, o ESTUDO NÃO É TÃO DIRIGIDO. Ocorre que os bons alunos do cursinho, que passaram no vestibular, geralmente, não aprenderam a lidar com a LIBERDADE, não foram ensinados a se organizar com AUTONOMIA. Ficam esperando uma direção, uma orientação da faculdade e esta não vêm.
O universitário tem de se virar, tem de aprender a se organizar sozinho. Tem de se responsabilizar pelo uso do seu próprio tempo. Não há tarefas diárias a cumprir. E aprender a lidar com a liberdade é difícil. A liberdade é a escolha entre alternativas concretas. Vou para a biblioteca ou vou para o bar? Você tem de escolher. E responder pela escolha! Não há outra saída.
O segundo fator da crise do primeiro ano decorre do fato de que AS MATÉRIAS SÃO MUITO ABSTRATAS, os professores levantam vôo e ficam a dez mil metros de altitude, os alunos olham com cara de quem está entendendo, mas ninguém está entendendo nada. Mas também não comentam. Daí chega uma hora e você se pergunta se será mesmo capaz de dar conta do recado, se será capaz de aprender e de tirar nota. Você passa a duvidar da sua própria capacidade de acompanhar os professores, esses ETS que não voltam a Terra...
E o terceiro fator decorre da IMPRESSÃO DE QUE VOCÊ VAI PASSAR A SUA VIDA INTEIRA NA FACULDADE. Essa sensação ocorre porque, em geral, o calouro tem ao redor de dezoito anos, ou seja, eighteen, ele é um TEEN. Como a maturidade emocional, afetivo-social, a socialização e a importância maior dos amigos começa ao redor dos treze anos, deste ponto de vista, aos dezoito anos o calouro tem aproximadamente cinco anos de vida sócio-afetiva. Então, como a faculdade leva cinco anos para terminar, o calouro tem a impressão de que ele vai passar nela, tanto tempo quanto já viveu, ou seja, a vida toda...
Pense então comigo. Se ninguém dirige o meu estudo e se não me dizem o que fazer e o que estudar. Se não entendo as aulas e fico boiando. E vou passar a minha vida inteira assim? Sem ter qualquer apoio para me segurar? Aí você conclui: não, isso não dá. Você está entrando na crise do primeiro ano. SACOU?
Calma. Há remédio. É o verbo TOLERAR. Confie, a crise do primeiro ano passa. Leva um certo tempo, mas passa.
Finalmente a terceira dica, sobre estágios.
É fatal. Assim que entramos na Faculdade de Direito, especialmente a família pensa que já podemos resolver todos os problemas. E pensa, também, que quanto mais cedo começarmos a estagiar em algum escritório de advocacia melhor para a nossa formação. Dois erros fatais, diante dos quais o calouro tem de aprender a se defender.
Como você não sabe resolver nenhum problema jurídico, o melhor é logo afirmar que você acaba de entrar na faculdade, ainda não sabe nada, e que, assim que se formar, daqui a cinco anos, terá prazer em ajudar. É verdade, você corre um sério risco de atrapalhar uma solução correta se quiser advogar antes do tempo. Portanto, comece a ser um bom advogado, mostrando que você ainda não sabe e nem pode advogar... Seja hábil para não parecer que você apenas está com má vontade.
Estagiar no primeiro e no segundo anos da faculdade é a maior fria para o estudante que quer sair bem preparado da faculdade. Resistir ao estágio é muito difícil por quatro razões.
A família pensa que é bom e pressiona. Os escritórios de advocacia querem mão de obra barata e pressionam. Estagiar é muito mais fácil do que estudar e ainda conta com o apoio da família. Para o calouro, é uma ótima desculpa para vadiar e evitar o trabalho mais difícil do mundo, o estudo. Estagiando você é dirigido e não precisa aprender a lidar com a liberdade. Ainda que você seja mal dirigido, uma vez que você é levado a fazer coisas contrárias ao seu interesse maior, o de sair bem preparado para concorrer com aqueles que agora estão te contratando.
Se você precisa de dinheiro para pagar os seus estudos, aí é diferente. Neste caso, procure um emprego com registro em carteira, faça um concurso para um cargo técnico ou administrativo, etc.
Caso contrário, o melhor é aproveitar o tempo para ler e resumir, porque este tempo é o de agora, tempo que não volta mais e é dificilmente recuperável. Lembre-se de que além de ler e resumir será preciso que você leia a Constituição Federal, os códigos, a jurisprudência, as revistas especializadas, fazer iniciação científica, etc. Por isso, se você puder, o melhor investimento é o estudo diário, quatro horas por dia, no mínimo...
Parabéns, e boa sorte!
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