REVIVÊNCIA
Raul faz dinheiro com corretagem e se considera de classe média alta.
Perambulando pelo shopping, entra e lê trechos de uma biografia. Às tantas seus olhos se enchem, quase marejam, ele inspira fundo, pára a leitura para se observar e perceber que uma gota insiste em se formar, transbordar e ser puxada pela gravidade, umedecendo a sua face direita.
Revivência. Lembra-se nitidamente da cena. Não quer voltar para a casa dos pais. Quer continuar morando com a tia. Vê o carro preto do pai parado do outro lado da rua. Ele se vê em pé na porta de saída da casa. Ela então lhe ajuda.
_. Pode ir, agora você tem duas mães. Você pode ir morar com a sua mamãe sabendo que tem uma outra mãe aqui.
_. Mãequi, mani...
À cena rememorada segue-se a reflexão, inevitável. Criança de menos de três anos. Nenhuma lembrança da mãe biológica antes da ida à casa da tia, enquanto a mãe lidava com a segunda gravidez, problemática.
Depois da volta à casa de origem, a lembrança mais forte é a da mãe sexualmente repressora. Ainda que o menino apenas estivesse, aos quatro anos e pouco, descobrindo seu próprio corpo, as zonas de prazer em torno de seu pênis infantil.
Mas o mais importante para Raul foi intuir uma das origens do seu medo de amar, de se apegar, de se entregar e de confiar. Começou a pensar na dor que deverá ter sentido quando foi deixado na casa da tia e apartado da sua mãe biológica. E como se defendeu desta dor. Apagou a sua mãe biológica da memória.
Muito bem. Apegou-se à tia, fez a substituição, admitiu uma nova mãe. Entregou-se e começou a ser feliz. E eis que dela é arrancado para voltar à primeira mãe. Nova morte, novo luto. Novo abandono...
Raul sobreviveu. Mas esteve marcado até agora. É melhor ter duas mães, duas mulheres. Uma titular, biológica, com companheirismo, afeto e sexo. E outra apenas amiga, em parceria espiritual, no stand by, just in case...
Caramba, pensou Raul, talvez um bom analista possa ajudar a desenrolar este novelo...
Perambulando pelo shopping, entra e lê trechos de uma biografia. Às tantas seus olhos se enchem, quase marejam, ele inspira fundo, pára a leitura para se observar e perceber que uma gota insiste em se formar, transbordar e ser puxada pela gravidade, umedecendo a sua face direita.
Revivência. Lembra-se nitidamente da cena. Não quer voltar para a casa dos pais. Quer continuar morando com a tia. Vê o carro preto do pai parado do outro lado da rua. Ele se vê em pé na porta de saída da casa. Ela então lhe ajuda.
_. Pode ir, agora você tem duas mães. Você pode ir morar com a sua mamãe sabendo que tem uma outra mãe aqui.
_. Mãequi, mani...
À cena rememorada segue-se a reflexão, inevitável. Criança de menos de três anos. Nenhuma lembrança da mãe biológica antes da ida à casa da tia, enquanto a mãe lidava com a segunda gravidez, problemática.
Depois da volta à casa de origem, a lembrança mais forte é a da mãe sexualmente repressora. Ainda que o menino apenas estivesse, aos quatro anos e pouco, descobrindo seu próprio corpo, as zonas de prazer em torno de seu pênis infantil.
Mas o mais importante para Raul foi intuir uma das origens do seu medo de amar, de se apegar, de se entregar e de confiar. Começou a pensar na dor que deverá ter sentido quando foi deixado na casa da tia e apartado da sua mãe biológica. E como se defendeu desta dor. Apagou a sua mãe biológica da memória.
Muito bem. Apegou-se à tia, fez a substituição, admitiu uma nova mãe. Entregou-se e começou a ser feliz. E eis que dela é arrancado para voltar à primeira mãe. Nova morte, novo luto. Novo abandono...
Raul sobreviveu. Mas esteve marcado até agora. É melhor ter duas mães, duas mulheres. Uma titular, biológica, com companheirismo, afeto e sexo. E outra apenas amiga, em parceria espiritual, no stand by, just in case...
Caramba, pensou Raul, talvez um bom analista possa ajudar a desenrolar este novelo...
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