VIVA O BRASIL!
Sim,
fico otimista recordando eventos que vivenciei e que me permitem olhar a
história do Brasil como um processo que se desenvolve lentamente, com avanços
em algumas áreas, recuos em outras. O que pretendo, pois, evidenciar, neste
texto, é a presença recente de um novo sujeito político a comandar a agenda do
país: a cidadania de modo geral e, especialmente, a parcela dos nascidos a
partir dos anos 70 e com algum estudo. E
o contexto atual é o da sociedade em rede de que nos fala Manuel Castells.
Neste panorama
histórico, dizia-se, ao fim dos anos 40, que no Brasil “em se plantando, tudo
dá”. Depois, nos anos 50, vieram a industrialização, a urbanização e o
entendimento de que o desenvolvimento criava problemas só resolvíveis com mais
desenvolvimento, época do presidente bossa-nova, o sorridente Juscelino
Kubitschek! Rompeu com o FMI e a política de austeridade. Rodou a máquina de
cruzeiros e desenvolveu, com inflação, cinquenta anos em cinco.
Em
seguida, Jânio renuncia em 1961, Goulart assume no parlamentarismo, o
plebiscito escolhe o presidencialismo, faz-se intensa campanha pelas reformas
de base, os militares assumem em 1964, promovem reformas que modernizam o país,
instalam uma ditadura em 1968, formulam planos de desenvolvimento econômico e
saem em 1984. Sarney assume em 1985, rompe novamente com o FMI, aguenta uma
liberdade catártica, lança o “tudo pelo social” mediante um bem sucedido
programa de distribuição de leite, convoca a Assembleia Nacional Constituinte e
a Constituição cidadã é promulgada em 5 de outubro de 1988.
Então,
através de eleições diretas, Collor assume em 15 de março de 1990, vence a
hiperinflação, enxuga o Estado, promove a abertura comercial estimuladora da
competitividade nacional e é impedido em 1992. Em consequência, Itamar Franco
assume, retoma o desenvolvimento através das 62 câmaras setoriais existentes em
outubro de 1992, lança o plano real em julho de 1994 e estabiliza a moeda,
fazendo seu sucessor.
FHC promove
privatizações, edita a lei de responsabilidade fiscal e de improbidade
administrativa, reelege-se e consolida a estabilidade monetária e financeira. Lula
assume em janeiro de 2003. Reelege-se em 2006, consolida o programa bolsa família,
aproveita o boom das commodities para pagar o FMI e estimular
o consumo, mas desindustrializa e reprimariza
a economia, destruindo as lideranças em
seu entorno. Não consegue o terceiro mandato, elege uma amadora como Presidente
da República que não lhe devolve o cargo em 2014 e, ainda por cima, reeleita
mediante sórdida campanha e estelionato eleitoral, leva o país à maior recessão
de sua história, com quase doze milhões de desempregados. Sua popularidade cai
a menos de 10% e ela perde a base congressual, reduzida a 146 deputados e 22 senadores.
Como
resultado, fruto de um impeachment
ainda em andamento, Michel Temer assume em 12 de maio passado. Impedimento previsto expressamente na
Constituição Federal de 1988, por crimes de responsabilidade, cujo rito e
procedimento são estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal, em consequência
de requerimento encabeçado pelo jurista Hélio Bicudo. Neste momento, o Senado
Federal julga o processo que é presidido pelo presidente do STF, ministro
Ricardo Levandowsky.
A partir desta
recordação, desejo salientar dois fatos. O primeiro é o de que o impedimento em
curso foi imposto ao país pela cidadania nas ruas, 6 milhões em 13 de março do
corrente. A reivindicação do impeachment,
no entanto, começou timidamente em novembro de 2014, até impor-se à classe
política e ao Judiciário. Atribuí-lo a
outras causas é mera retórica alienada e alienante.
O segundo fato
é anterior, data das manifestações de junho de 2013 e resulta diretamente delas.
Precisamente, o arquivamento da PEC 37, a chamada PEC da mordaça, pela qual a
pupila de Lula pretendeu retirar do Ministério Público o seu poder de
investigação criminal. A Câmara arquivou a PEC 37 por 430 votos a 9. Caso
houvesse a aprovação, ela teria inviabilizado a operação Lava Jato. Entretanto,
a cidadania subiu na cúpula do Congresso Nacional e exigiu o respeito à
Constituição, bem como a liberdade de autuação dos defensores da sociedade
contra os corruptos responsáveis pela má qualidade dos serviços públicos
brasileiros. Esta exigência deve continuar nos dias atuais, em face das
tentativas de proteger os corruptos.
Embora o
futuro esteja entreaberto, em tempos de revolução digital, há uma certeza: o
poder emana do povo e a cidadania pede passagem!
Viva a
Constituição Federal de 1988! VIVA O BRASIL!
Comentários
Excelente retrospectiva e reflexão. Parabéns.
Só me resta comentar o final do texto.
"Embora o futuro esteja entreaberto, em tempos de revolução digital, há uma certeza: o poder emana do povo e a cidadania pede passagem!"
Que a palavra de ordem da vez é a cidadania, concordo totalmente.
Fico na dúvida se o poder realmente está emanando do povo, ou do poder da mídia e das redes sociais comandadas pelo Google, Facebook, Microsoft e financiadas pelo governo americano. (CIA)(???)
O Brasil não sabe o caminho a seguir, mas terá de achar. As chaves alternativas estão no artigo.
Francisco Petros
Feliz com a sua apreciação estimuladora!
Abraços