SOCIOLOGIA ELEITORAL, DUAS ESPERANÇAS E O DISCURSO DA VITÓRIA

Eleições de 2010 – Segundo turno presidencial, em números arredondados

1 Colégio Eleitoral: 135 milhões de votantes inscritos.

2 Votação da candidata eleita: 55, 7 milhões

3 Não votaram na candidata eleita: 79 milhões

4 Distribuição dos que não votaram na candidata eleita:

4.1 - 43,7 milhões votaram no candidato derrotado

4.2 - 29 milhões se abstiveram e não foram votar

4.3 – 7 milhões foram votar e anularam o voto ou votaram em branco.

5 A candidata eleita recebeu 12 milhões a mais do que o candidato derrotado

5.1 – 10,7 milhões vieram dos Estados do nordeste

5.2 – 1,3 milhões vieram na maioria da Amazônia e da fronteira de Minas e Bahia

5.3 – Dos quase 900 municípios atendidos pelo Bolsa-Família, o candidato derrotado só venceu em 12 municípios.

6 Conclusão provável: é bem possível admitir-se que a descrição sociológica de Vitor Nunes Leal, em seu livro “Coronelismo, Enxada e Voto”, continue bem atual, e sirva para explicar, sociologicamente, o resultado eleitoral do segundo turno da eleição presidencial de 2010.

7 Minha primeira esperança é a de que a candidata eleita recompense a vitória eleitoral a quem lha garantiu, libertando-os da dependência socioeconômica institucional, política e eleitoral.

8 Para tal, minha segunda esperança é a de que a candidata eleita invista os recursos do Estado na educação e profissionalização da sua base eleitoral. E chame os recursos privados para os investimentos que podem gerar retornos financeiros a partir deles próprios. Assim, não desperdiça os recursos do Estado onde a iniciativa privada pode atuar e supre a carência da sua base eleitoral. Isto é importantíssimo, já que os investimentos privados não vão atender a base eleitoral da Presidenta Dilma.E esta base eleitoral merece ser libertada da ignorância e da pobreza pela própria pessoa que ela elegeu.

9 Duas observações finais. A primeira é a de que mudamos a forma de legitimação do poder, de carismático para burocrático-racional. Neste sentido weberiano, a nova presidenta está mais para FHC do que para Lula.

10 Finalmente, uma consideração sobre o discurso da vitória.

Gostei bastante.

Mas há uma inverdade histórica.

Os grupos revolucionários que queriam derrubar a ditadura militar não o faziam em nome da Democracia e das liberdades democráticas e sim, para derrubar o capitalismo, o Estado burguês e implantar a ditadura do proletariado sob a égide do marxismo-leninismo-maoísmo-castrismo.

Sendo eu da geração de líderes estudantis em 68, tenho o dever de dar este testemunho às novas gerações. Afinal, o José Dirceu, o José Mentor, a Zulaiê Cobra, o José de Abreu, o Fleury (assassinado), foram meus calouros e convivemos no mesmo campo da esquerda, eu, como membro da equipe regional da Juventude Universitária Católica. Já o meu grande amigo Luís Travassos (falecido em acidente,o José Wilson (assassinado)e o Luis Paulino foram meus colegas de classe, turma de 64-68 do Direito da PUC-SP.

E, claro, tomo o termo Democracia como regime político em que os indivíduos participam da elaboração da lei que vão obedecer, com pluralismo político, respeito à oposição e alternância de poder, Democracia consagrada na nossa Constituição de 1988, que o PT não quis assinar, como a história registra.

Não falo, pois, da democracia popular como expressão linguística ideológica de encobrimento da ditadura comunista de partido único.

Faço este registro duplamente histórico, de hoje e da década de 60 e 70, porque pareceu-me que o discurso da nova presidenta efatizou a democracia da nossa Constituição e, ao referir-se a si própria como tendo sofrido por ser amante da liberdade referiu-se a um período que lutava pela ditadura do proletariado sob partido único, sem o pluralismo político que agora lhe permite presidir o País.

Não é justo, então, que a nova geração seja enganada sobre os propósitos dos vários grupos revolucionários que então se organizaram com o apoio dos partidos comunistas estrangeiros. A conversão da Presidenta Dilma à esta Democracia Constitucional que conquistamos em 1988 sem o apoio do PT, de regime de liberdades públicas, entretanto, é um sinal de grande evolução da pessoa e da mentalidade da Presidenta.

Vamos conferir se a conversão foi amadurecida, para valer, ou se haverá uma regressão ao estágio anterior da evolução do processo civilizatório, de personalismos e caudilhismos autoritários.

Voltando à juventude, lembro-me que eu mesmo namorei a hipótese da luta armada, mas concluí que era "porraloquice" e não segui este caminho, como muitos dos universitários meus amigos de então. A História me deu razão. Tanto isto é verdade que os antigos revolucionários marxistas-leninistas-trotiskistas-maoístas-castristas ficam até com vergonha da sua avaliação equivocada de então, camuflando as antigas opções e razãoes, travestindo-as de luta por esta Democracia Constitucional que conquistamos.

Por isso, não vamos deixar que golpeiem a nossa Democracia. O preço da liberdade é a eterna vigilância!

Comentários

Unknown disse…
Gostei muito do texto, professor.
Só fico triste que alguns dos políticos mais importantes do país nao sejam, como o sr disse em aula, briosos (ou briosas) o suficiente para assumir posições tomadas no passado. É que, infelizmente, o medo de perder as eleições, de sair do Poder, é maior. Pra que falar a verdade, né?
Eu mesmo, nao acreditava que o ideal desses grupos de esquerda da época eram implantar a ditadura do proletariado. E acredito que muitas pessoas também se enganam desse modo.
É um prazer conhecer a verdade por meio de alguém que vivenciou as situações e faça questão de colocá-las em pratos limpos.
Parabéns Professor, Abraços
Unknown disse…
Professor, salutar e preciso seu comentário sobre o passado do partido dos trabalhadores, o passado terrorista do presidenta Dilma e demais companheiros que assistem no Governo Federal.
Pergunto somente, poderia o PT implantar gradativamente o comunismo marxista segundo a cartilha do manifesto comunista que preconiza as medidas para implantação desse sistema, a saber:
o aumento progressivo dos imposto e
a expropriação dos latifúndios.

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