LULA E FALCÃO - UMA COINCIDÊNCIA

Não, não, o texto não se refere ao mundo animal. É sobre homens e a vida política institucional. Ilumina a coincidência entre o que o professor e jurista Joaquim Falcão escreveu e a nova posição do ex-Presidente Lula.

Começo resumindo o pensamento do primeiro, expresso hoje na Folha de São Paulo, sob o título “A força política da ética”, à página A3. O autor lembra que os militares perderam a legitimidade porque sufocaram a liberdade e não resistiram quando esta se tornou a bandeira da sociedade. E, na atualidade, o desvio da conduta ética por parte dos agentes públicos tem acarretado a perda da legitimidade institucional.

Então, para ilustrar a força política da ética cita a renúncia do presidente da Alemanha acusado de tráfico de influência, o afastamento pelo rei Juan Carlos do genro acusado de desvio do dinheiro público e a demissão de ministros pela presidenta Dilma. E conclui, “não se constrói instituições legítimas e eficientes em ambiente de anemia ética, de perda de legitimidade institucional”.

O professor constata, ainda, que a ética pública está com pressa. Pressionou o Congresso e aprovou a lei da Ficha Limpa, pressionando o Supremo também. Apóia a ministra Eliana Calmon em sua cruzada pela transparência na administração judicial, impacienta-se com o foro privilegiado para os políticos e apóia a exigência do TSE, de constas aprovadas para candidatos, rememorando, ainda, que a Comissão de Ética Pública funciona.

Em resumo, afirmo eu agora, a onda moralizante da sociedade, com justeza, está se transformando em um tsunami que esperamos varra a desonestidade no trato do dinheiro público para bem longe dos costumes brasileiros.

Por outro lado, e agora vem a coincidência de início mencionada. Antes de tudo, porém, pressuponho que concorde ser o ex-presidente Lula um gênio político, de sensibilidade ímpar para com os desejos e aspirações do povo e da opinião pública.

Político profissional que sabe como nenhum outro identificar a onda social, posicionar bem a sua prancha individual, subir e surfar, mantendo-se não apenas no centro do palco como, a partir daí, liderar.

E foi isso o que eu notei. Apesar dos seus oito anos terem sido o que foram em matéria de ética na política, ele agora aderiu à onda social moralizante disposto a lidera-la. De fato, ao receber o senador Eduardo Braga afirmou que os tempos são outros, distintos do momento em que assumiu a presidência em 2002, e que apóia a presidenta Dilma em sua luta pela transformação dos costumes políticos, porque a “luta dela é uma luta boa”.

Ora, ora, pois!

Entretanto, mais importante que esta coincidência entre a nova posição política de Lula e a magistral exposição de Falcão é registrar que além da arquiconhecida lei da Ficha Limpa – por si uma revolução – agora temos também a Lei de Acesso à Informação, a exigir que todos os órgãos públicos publiquem na Internet o destino das verbas públicas.

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