ATÉ QUANDO ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA?

         À mesa, saboreando um queijo e vinho ela me perguntou:
         _ Você já se sentiu inadequado?
         _ Não que eu me lembre, respondi-lhe.
Depois, sentado no sofá, ouvi a mestre pela USP e doutora pela PUCSP, um ano na Inglaterra e meses em Harvard, com um Curriculum Lattes invejável, esbravejar contra a sua abrupta demissão.
         De fato, enquanto aplicava uma prova, discorria, o correio deixava em sua casa telegrama que assim começava: “confirmando seu desligamento...”. Depois de mais de dez anos de casa, via-se no olho da rua, sem maiores... e, procurava entender, queria a minha opinião.
         Nem preciso descrever os gestos, as palavras, ou melhor, os palavrões, que irrompiam qual Etna furioso, os olhos de dragão furibundo, em rosto flamejante, tal qual febre de mais de 40 graus. Uma verdadeira usina de cólera a destilar flechas de energia psíquica capazes de furar qualquer couraça e, talvez, até paralisar o coração do empregador.
         Não há mistério algum em sua demissão, comecei. O trabalho continua escravizado ao capital. A lei complementar prevista no inciso I do art.7º da CF/88, o qual estabelece “relação de emprego protegida contra a despedida arbitrária ou sem justa causa”, não foi ou será editada pelo Congresso Nacional. Simples assim.
         ­­­Nesse passo, continuei, lembro que o Ministro Barroso, ao estrear no plenário do STF, afirmou, um deputado ganha quase um milhão em um mandato, mas precisa financiar uma campanha que custa quatro milhões! Ora, deduz-se, mesmo não houvesse desvio de dinheiro público, o parlamentar já chega lá transformado em lobista corporativo.
         ­E tasquei: lei complementar para proteger relação de emprego contra despedida arbitrária ou sem justa causa,... ha, ha, ha, bela piada constitucional! Os capitalistas gargalham juntamente com os sindicalistas e com os políticos que vivem do capital arrecadado dos contribuintes. Todos eles se riem dos idiotas, os empregados demissíveis sem justa causa... esses beócios facilmente intimidáveis!
         Ademais, prossegui, na última eleição da Congregação você votou no candidato que perdeu. Quem se elegeu demitiu os que não votaram nele... Afinal, não há regulamentação contra a despedida arbitrária e sem justa causa. E você, então, foi demitida em razão do injusto arbítrio de um amedrontado qualquer. Simples assim!
         Quanto à inadequação da pergunta inicial, querida colega, é uma das terríveis conseqüências do inominável, injusto, execrável e abusivo arbítrio de um covarde protegido pela lei. Essa ‘inadequação’ tem outro nome: crise de identidade, auto-estima tendente a zero... por sinal, bem apropriada para inibi-la quanto à ação trabalhista, sob a justificativa de não se queimar em face de outro capitalista empregador, ser expulsa do mercado e morrer mesmo, na praia!
­Tragédia, concluo.
Agora é o Sistema quem fala. “Calada! Vá alugar a sua força de trabalho em outra freguesia, por um preço menor e, não me encha!”
Até quando abusarás da nossa paciência?

          

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