DITADURA?
A campanha
presidencial de 2018 trouxe a palavra ditadura à tona. Sim, pois as campanhas
políticas dos dois candidatos dão a impressão de que os eleitores terão de
escolher entre a ditadura comunista bolivariana, à la Venezuela, ou a ditadura militar brasileira da década de 60. Mesmo
que cada um dos candidatos sonhe com a sua ditadura preferida, não acho que
tenham ambiente para tanto. Explico-me.
Primeiramente,
recordemos. Os elementos essenciais da democracia são: cada cabeça um voto,
eleições livres, justas, periódicas, mediante voto secreto e direto, em
ambiente de respeito às liberdades públicas; governo da maioria com estrito
respeito às minorias e alternância do poder. Elementos estes consagrados em uma
Constituição resultante do poder popular reunido em uma Assembleia Nacional
eleita para constituir o Estado, em que a divisão de poderes, legislativo,
executivo e judiciário seja estabelecida, a fim de que um poder controle o
outro; um sistema de pesos e contrapesos entre os poderes, aliás, regime
político que vigora hoje no Brasil desde 05 de outubro de 1988. Em resumo, na
democracia a lei votada pelos representantes eleitos pelo povo, ou diretamente,
impera sobre a vontade do homem.
A ditadura,
por sua vez, é o governo de fato, baseado no arbítrio da vontade humana
sustentada pela força: das armas, de um parido político, de uma religião, de
uma oligarquia socioeconômica, de uma etnia, sendo no geral, uma combinação de
alguns destes fatores, com a consequência funesta da supressão das liberdades
públicas e da eliminação das oposições. Em resumo, na ditadura a vontade
arbitrária do homem impera e a lei passa a ser, apenas, um instrumento da sua
vontade.
Destarte,
sempre há uma tensão entre a liberdade e a autoridade, dois valores
imprescindíveis para a organização da vida em sociedade, ora o pêndulo
inclinando-se para a liberdade, ora para a autoridade. Quando a liberdade
degenera em anarquia o povo reclama alguém que restabeleça a autoridade e,
vice-versa, quando a autoridade degenera em autoritarismo e no limite, em
ditadura, o povo luta para restabelecer a liberdade. A História tem demonstrado
este vai e vem ao longo do tempo, inclusive, como sabemos, no Brasil.
Por outro
lado, estamos na era da Internet, da revolução digital, das mídias sociais, da
nanotecnologia, da biotecnologia, da indústria 4.0, da internet das coisas, da
impressora 3D, da passagem da energia fóssil para a era das energias de baixo
carbono, renováveis, solar, eólica e das biomassas, da robotização e da
inteligência artificial; era dos alfabetizados em algoritmo, a formar uma nova
classe social que confronta, cada vez
mais, a burguesia que derrubou a nobreza em 1789. A fila anda, como se diz. A
base material da sociedade caminha mais depressa que as formas
político-jurídicas que a organizam.
Todavia,
embora as velhas formas resistam, o novo pressiona para que haja mudança. É o
que estamos a observar. Os cidadãos brasileiros, indignados, protestaram
veementemente em junho de 2013 e continuarão protestando, pois o Estado é
incapaz de controlar a Internet.
Da minha
parte, confio na solidez das nossas instituições, no sistema de pesos e contrapesos
e, portanto, não penso que haja qualquer ameaça à nossa democracia, em que pese
linguagens desabridas e hiperbólicas a insuflar um e outro, aqui e acolá, o que
deixa de interessar a quem se eleger.
Pelo
contrário, se houver alternância do poder, o que é saudável e democrático, tenho
certeza de que os cidadãos, acordados em junho de 2013 e articulados em vários
movimentos através das mídias sociais, continuarão vigilantes, a fim de que a
democracia seja ainda mais participativa.
O preço da
liberdade é a eterna vigilância. Ditadura, não!
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