A VOZ DAS RUAS II
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recuperando informação do Datafolha, de 20% de votos brancos e nulos nas
últimas eleições. Significativamente, dois terços destes eleitores, segundo o
mesmo instituto, tinham menos de vinte e cinco anos de idade. Num colégio
eleitoral de aproximadamente 180 milhões de eleitores, são ao redor de 24
milhões de jovens que manifestaram descrença na democracia representativa. E na
passeata que saiu do Largo da Batata em 17/06/13, o Datafolha apurou, mais da
metade dos participantes tinham menos de 25 anos.
Há, pois,
segundo penso, um duplo conflito que se interconecta para desaguar em uma
posição de cidadania, de manifestação a partir da condição de cidadão, com direitos
oponíveis ao Estado, do qual se reivindica seja republicano na aplicação dos
recursos. É, em primeiro lugar, um conflito de gerações, já que se considera
uma geração a cada vinte e cinco anos.
Ademais, é,
também, um conflito de era, já que estes jovens pertencem à era da Internet,
reflexo de uma profunda mudança na base material da sociedade, possibilitada
pela revolução tecnológica digital. Lembremo-nos, a web world wide veio
em abril de 1993. Conflito, pois, em face das gerações pré-Internet, enclausuradas
em instituições que já não refletem as mudanças havidas na infra-estrutura
técnica da sociedade, fibras óticas, etc.
Por isso que o
constitucionalista Canotilho cobra dos juristas, em livro publicado em 2006,
que pensem nos equivalentes jurídicos da democracia eletrônica, a fim de
construir a superestrutura legal que lhe corresponda. A premissa, por óbvio,
tem de ser a possibilidade de participação direta dos cidadãos, online, nas
decisões políticas que interessem ao bem comum do povo. A juventude tem pressa!
Neste sentido,
lamentar que os mais de um milhão de brasileiros insatisfeitos, participantes
das passeatas neste junho de 2013, em sua maioria jovens de menos de 25, não
admitiram a presença dos partidos políticos é não entender o que acontece.
Acusá-los de antidemocráticos já é revelar miopia cognitiva. Significa não
compreender que os jovens cidadãos “internetistas” visam uma democracia
eletrônica online. Pois nasceram na era informacional, da informação em
cascata, de equivalências em cadeia, no contexto da rede virtual, que para eles
é o real, São ‘netizens’. O real é virtual e o virtual é real!
Mas há um aspecto mais profundo, nesta queixa
que defende a presença dos partidos políticos e maldiz os manifestantes como se
portando de maneira antidemocrática. Ele aparece quando a crítica introduz a
disjuntiva, democracia através de partidos ou ditadura, o que ouvi do Ministro
Gilberto Carvalho, em ‘A Voz do Brasil’, disjuntiva repetida pela
Presidenta Dilma, em seu pronunciamento de hoje, à Nação.
Ora,
aferrar-se a esta disjuntiva mostra o atraso da mente humana em face do avanço
material da sociedade, demonstra uma defasagem, um gap entre as
possibilidades da revolução tecnológica digital na política e as categorias
mentais presas à era pré-Internet. Relembre-se que a mente humana sempre corre
atrás do avanço material da sociedade. É o que a sabedoria popular demonstra
muito bem quando diz que a “ficha demora a cair”.
A democracia
online, pois, dos jovens de menos de vinte e cinco anos não carece de partidos
políticos para intermediar suas demandas. Bastará clicar! O grande problema é,
primeiro, reconhecer esta nova realidade. Segundo, em termos políticos de
construção das instâncias decisórias, ajustar as instituições políticas à era
da Internet e caminhar na direção da democracia direta online.
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