SER OU NÃO-SER
Ser ou não
ser alguma coisa é diferente, é questão distinta do antônimo “ser e não-ser”, o
“não-ser” com hífen. De fato, no primeiro caso, eu posso ser advogado ou não
ser advogado. Ser médico ou não ser médico, e assim por diante. Ainda, ser
professor e não ser professor e sim ser pintor, músico ou encanador.
Ser ou
não-ser, ser e não-ser, por outro lado é questão filosófica difícil de
entender. O ser é algo, com existência e consistência. Já o não-ser é o
nada, sem existência e portanto, sem
consistência. Eu posso pensar e imaginar o ser. Mas não posso pensar ou
imaginar o nada, o nenhum, o coisa alguma, o “não-ser”.
É preciso
cuidado para não confundirmos o nada, o “não-ser” com um objeto ideal, abstrato,
um número, por exemplo. O número um, o número dois, etc são seres ideais, só
existem na mente humana, como entes abstratos, mas classificam-se como objetos
ideais, e, portanto, caem na categoria do “ser” e, pois, não caem na categoria do
“não-ser”.
Sim, os
números são alguma coisa, abstrata, apenas existentes nas mentes humanas, mas
são seres existentes abstratamente, tem uma consistência quantitativa, e, então,
são representados graficamente pelas notações arábicas ou romanas.
Já o “não-ser”
é impensável, inimaginável, inatingível, uma vez que não tem existência e,
consequentemente, por definição, não possui qualquer consistência. O “não-ser”
não admite qualquer tipo de representação, por mais imaginativo e criativo que
eu possa ser. Ou melhor, a única representação do “não-ser” é a palavra ou
expressão “não-ser”. Apenas uma forma linguística sem conteúdo, sem existência ou
consistência. Tão somente um antônimo do ser.
É mais ou
menos fácil entender logica e racionalmente esta reflexão sobre o ser e “não-ser”
como antônimos linguísticos.
Mais
difícil, penso, é tentar sentir a possibilidade do “não-ser”, do nada, do
vácuo, do abismo existencial, da ausência de qualquer consistência. Sentir a
emoção do nada, do absolutamente nada, do nada absoluto.
Ora. Este é um caminho impossível já que o
nada absoluto me levaria ao absoluto, ao todo, ao tudo e, portanto, ao ser. E o
absoluto não cabe na minha mente relativa. Coubesse, seria eu o absoluto.
Entretanto,
admitir um absoluto, ou o Absoluto já é sair do campo da lógica e da razão para
adentrar o campo da fé, da convicção em algo que não comporta explicação racional.
A atitude aí é a de apenas abrir-se, ouvir, escutar, sem nada pensar! Contemplar
a beleza do universo e admirar-se. Pode, até, quem sabe, nascer daí alguma
inspiração
Comentários